quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Meus avós

Nunca tive avós. O leitor mais atento perceberá que esse texto já começa errado, afinal, qualquer ser humano vivente ou que já viveu por esse planeta já teve avós, antes disso bisávos e antes disso tataravós. Assim sucessivamente até chegarmos em Adão e Eva, ou para os mais esclarecidos em algum casal de primatas peludos. O que quis dizer é que nunca os conheci. Corrigiria o texto, mas isso hoje não me apetece.
Minha avó partena foi a primeira a falecer, quando papai ainda contava seus 5 anos. Meu avô materno, foi o segundo. Mamãe havia acabado de fazer 16 anos. Filha única, teve de arcar com a responsabilidade de sustentar a casa e cuidar de uma mãe abatida pela viuves e as tradicionais doenças que acompanham a idade. Se não estou enganado, meu avô paterno é o terceiro nessa lista fúnebre. Em época onde as distâncias eram realmente distantes, parece que papai recebeu a notícia acompanhada com uma foto de meu avô deitado no caixão. Descobri mais um erro no texto. Eu conheci sim, pelo menos um dos meus avós. Minha avó materna faleceu quando eu tinha 6 meses de idade. O fato de eu não lembrar, não me permite dizer que não há conheci. Sinto muito digníssimos leitores, mas como disse antes, a correção de texto não será feita hoje.
Durante algum tempo, tentei buscar com meus pais algumas informações para que pudesse formular, nem que fosse um simples esboço, da personalidade dos meus avós. Consegui algumas coisas, mas acho que o medo de magoá-los com essas lembranças me impediu de ir mais fundo em minhas investigações. Acho que mesmo que conseguisse maiores informações eu não alcançaria meu real desejo. Não tinha o interesse em descobrir grandes feitos realizados por meus ancestrais, tão pouco me seria útil uma análise de pedigree. O que eu realmente gostaria de saber era o que pensavam eles sobre os mais diversos assuntos. Quais sonhos tiveram? Será que os realizaram? Se consideravam felizes ao final da vida? Haviam questões que os intrigavam? Infelizmente estas questões permanecerão sem resposta.
Embora não tenha a pretensão de ter filhos logo, espero que eles possam fazer essas e outras perguntas aos seus avós. Por via das dúvidas vou deixando meus pensamentos por aqui aos netos que um dia vier a ter.

O Homem das chaves

Tinha estudado muito e resolvi dar uma caminhada. As ruas do bairro Bom Fim em Porto Alegre são muito agradáveis pra isso. Uma quantidade razoável de árvores e nessa época do ano encontramos uma enorme quantidade de florzinhas roxas caídas no chão.Ando razoavelmente distraído nesses passeios, não é muito difícil não pensar em nada absolutamente, ou em coisas vagas e normalmente volto a estudar bem relaxado mas sem nenhuma lembrança especial.
Esse dia foi diferente. Quase no fim do passeio me deparei com um homem alto e negro, com cabelos "rastafari". Não estava bem vestido, mas deixava a dúvida se era um morador de rua ou um cantor de reggae, inclusive, seu andar podia perfeitamente ser acompanhado por uma trilha com esse estilo. O que realmente me intrigou foi que esse homem possuía um molho de chaves gigantesco em suas mãos. Durante alguns minutos fiquei pensando o que faria esse indivíduo com tantas chaves na mão. No fim pensei: Tantas chaves e tantas casas. Essas chaves não abrem as portas que aqui estão e esse homem com todas elas dificilmente deve ter um lar. Ele virou a esquina no caminho contrário e eu segui o caminho de volta aos meus estudos. As vezes ainda lembro do som das chaves.

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Algumas camisinhas com estória pra contar

Comprei minha primeira camisinha com 14 anos. Na verdade foram minhas primeiras, afinal, já naquela época as camisinhas vinham em pacotinhos de 3 unidades. Tudo bem que o significado da palavra transar não estava exatamente claro em minha mente, mas o primeiro passo fazia-se necessário e lá fui eu estrada a fora com o bendito pacotinho dentro da mochila. Eu tinha uma amiga famosa por sair com todo mundo e um plano perfeito; levaria a menina para a casa de um amigo e lá tudo seria muito simples e fácil, afinal a garota já tinha muita experiência, ou ao menos era o que se dizia na vizinhança. Acontece que a mocinha liberal calhou de ser liberal com todo mundo, menos comigo. Não bastasse essa frustração, as camisinhas acabaram sendo encontradas pela irmã mais velha do meu amigo e nós dois ainda tivemos que responder a um verdadeiro inquérito sobre nossas opções sexuais.
Na faculdade, já dotado de conhecimento suficiente para reconhecer a marca de uma camisinha pelo tato, fui testemunha do fato mais espantoso envolvendo camisinhas em minha vida. Havia chegado da aula e um amigo que dividia apartamento comigo perguntou se eu não tinha algumas camisinhas para lhe emprestar. Emprestei-lhe um pacotinho com a felicidade que os homens têm ao fazer esse ato grandioso de generosidade. Não fiz muitas perguntas, apenas um tapinha no ombro, um “Boa festa” e fui cuidar da vida. No café da manhã os outros dois amigos que dividiam a moradia conosco comentavam sobre também terem emprestado camisinhas a ele. Fizemos as contas e nosso Don Juan estava de posse de nove preservativos. Corremos até seu quarto, escutamos seu ronco, e batemos. Ele estava sozinho e pela primeira vez abriu a porta com um olhar de tranqüilidade. Espantados, nos demos conta de que ele USOU nove camisinhas em uma noite...
O cão é realmente o melhor amigo do homem, exceto é claro se ele for o cachorro da mulher com quem você estiver passando a noite. Bom, depois de muito latir para mim, o bichinho se acalmou, mas não desgrudava do meu pé. Era eu beijar a moça e lá vinha o totó pra cima da gente querendo brincar. No começo é até divertido, você faz uns carinhos nele e tal, mas uma hora depois você está olhando pela janela de um apartamento no 10° andar para verificar se a altura é suficiente para matá-lo. Não pensem que eu faria isso de qualquer maneira. Esperaria a moça ir ao banheiro e pronto, lá iria o cãozinho brincar de super cão. Calma, foi apenas um desejo, e mesmo que quisesse realizá-lo a moça não parecia muito interessada em ir ao banheiro. Levantamos da sala e fomos para o quarto. Pronto, agora estou livre, pensei. fechei a porta e em seguida escutamos crash, crash, crash seguido de latidos esganiçados. Ela me explicou que o bichinho não ficaria quieto sabendo que estamos do lado de dentro. Abri a porta e olhei pro cão pulando de felicidade, sim, a essa altura ele já me considerava seu melhor amigo, e olhei de volta para dona. Devo ter feito esse movimento umas quinze vezes enquanto pensava se deveria ir embora ou aceitar um cão como voyeur. Ele incrivelmente se comportou muito bem e encostou-se num canto do quarto enquanto eu e sua dona fazíamos coisas que ele provavelmente não estava familiarizado. (pobres poodles de apartamento). Confesso que durante o ato, eu dava umas olhadas pra ver se o bichinho não estava me encarando, pra minha felicidade em todas as vezes ele dormia. Ficou tudo tão calmo que nos esquecemos do cãozinho. Bom, mas essa é uma história sobre camisinhas ou uma novela canina? Você deve estar se perguntando. Então, pulemos a parte das horas de sexo selvagem e vamos direto ao ponto em que exausto, eu retiro a camisinha, dou aquele famoso nozinho e coloco no chão ao lado da cama. Estamos abraçados, curtindo a tranqüilidade dos bons amantes quando escutamos um ruído estranho, um barulhinho de plástico.- O que seria isso? Perguntei.- Deve ser o totó roendo alguma coisa. Respondeu ela– A CAMISINHA. Gritamos juntos. Levantei em um pulo, mas era tarde de mais. Totó havia engolido milhares e milhares de meus descendentes. A dona do bichinho passou a semana inteira de olho no cocô do totó, afinal seria difícil de convencer seus pais de que totó, de um dia para o outro tinha desenvolvido um sistema de cagar direto no saquinho plástico.

sábado, 8 de agosto de 2009

Mentira


Declaro que a partir de hoje mentirei com mais frequência. Se possível, sempre. Se possível, por que existem casos onde a verdade parece mentira, então, cercado de tantas mentiras, ao dizer esse tipo de verdade as pessoas verão que eu minto de vez enquanto.Veríssimo tem razão, mentimos pro bem da humanidade. Eu, como sempre, é que demorei para entender. Quando era pequeno mamãe perguntava por que não queria ir a escola.- PORQUE NÃO GOSTO, respondia e virava para o outro lado, na esperança de que me deixasse dormir. Ela, que sempre fora a melhor aluna de suas turmas, sentia a terra se abrindo e via todo o brilhante futuro que sonhara para seu rebento virando pó. Isso me doia, mas sempre fui um garoto de princípios.
Papai tinha tino para os negócios. Na esperança de que eu tomasse gosto pelo comércio, me levava em suas andanças. Certa vez, um possível comprador do carro que vendíamos fez a pergunta:- Faz tempo que o senhor possui esse carro?- Sim, já tem um tempo.- Não papai, esse carro você comprou semana passada. E olhando para o comprador disse - Eu mesmo ajudei meu pai a lavá-lo e passei pretinho no pneu, ficou bom né? Aí foi encerrada minha pequena participação nos negócios da família.
Com música não foi diferente. Como tinha uma certa facilidade em vista dos outros que comigo começaram a estudar, replicava toda vez que algum deles reclamava da dificuldade.- Não é não, é fácil. Faz assim...Para a minha sorte, alguns anos depois encontrei a tal dificuldade. Feliz com ela, pude conviver muito bem entre meus amigos. É claro que até hoje sempre sofri com as perguntas sobre o que achava de fulaninho de tal, cicrano de não sei o que. Se não gostava, dizia claramente. Quantos e quantos concertos saí em disparada logo após o término, evitando assim o encontro com algum conhecido e fugindo da temível pergunta: Então, gostou?
Com as mulheres, desastre total. Em princípio diziam admirar minha sinceridade. Se sentiam seguras ao saber que no caso de existirem outras mulheres eu não esconderia esse fato. Alguns meses depois choravam e perguntavam como eu poderia ser tão cruel, afinal a produção de seus cabelos havia sido feita por "Ditinho di Maküi". O que eu podia fazer se parecia um pé de coqueiro?
Mas a partir de hoje vida nova meus caros. Já consigo me ver dentro de mansões, iates, na "high society" onde minhas belas mentiras hão de me levar. Será uma vida falsa, mas cheia de prazeres. Como não sou de ferro as vezes soltarei uma verdade cruel, em tom cômico é claro, sobre a vidinha de merda que levamos, e a estonteante mulher de cabeça vazia que estará ao meu lado, certamente irá gargalhar alto, fazendo, com o mesmo efeito do bocejo, que todos riam junto e eu finalmente possa sorrir um sorriso sincero.